Santa Teresinha uma vida que comunicava valores perenes.

Santa Teresinha e os tempos da modernidade

Sem dúvida, Santa Teresinha está entre os santos que mais despertam a devoção na Igreja hoje em dia. Mas os santos não são tanto para serem admirados e vistos como milagreiros; mais que isso, eles foram elevados aos altares para serem imitados. Nesse mundo secularizado – onde o sagrado tem pouco valor diante das realidades de uma época marcada pela correria de quem não tem tempo a perder e pela superficialidade do homem tecnológico, um mundo que modela no homem uma personalidade sentimentalista, individualista, hedonista e com tanto outros “ismos” –, Santa Teresinha, de dentro de sua clausura do final do século XIX, tem alguma coisa a nos dizer hoje?

A espiritualidade de Teresinha é um caminho cotidiano de salvação. Ela propõe que todos os gestos, por mais simples que sejam, se forem feitos com amor, têm valor redentor: “Apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma. Que grande mistério!”. Só Jesus pode dar um valor tão grande às nossas ações. Por isso, sua proposta é perfeita para nós hoje: a santidade não se resume a gestos de piedade e longos tempos dedicados ao sagrado, mas pode ser encontrada na correria da vida do mundo. Perfeito! Sim, na correria do dia a dia, se cada coisa for feita com amor, tem valor de eternidade, porque traz a presença de Deus para aquela situação. Aliás, é um remédio para o mal da pós-modernidade: a depressão, porque, se cada coisa da vida ganha significado pelo amor, nada será mera repetição maçante de atos, mas tudo será sempre novidade; porque o amor traz o brilho do novo para as coisas da vida.


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Individualismo, solidão e competitividade são tendências que atraem o homem de hoje. Estamos ligados no mundo, mas sempre isolados numa telinha de celular ou telona de TV. E quando saímos daí, é para competir em lucro, poder, beleza física; enfim, todos querem o sucesso. Nisso Teresinha era muito diferente de nós, não porque não tinha a telinha ou a telona, e sim porque vivia de amor e o amor é sempre atual. Amante do último lugar, o único pódio pelo qual competia, e vivendo sob a leveza do escondimento, Teresinha em tudo queria fazer o bem: “Só o amor me atrai”. Nem o sucesso da santidade ela queria: “Não se deve trabalhar para tornar-se santa, mas para dar prazer ao Senhor”. Sua meta era realmente partilhar o bem, e por isso surpreendeu até os santos, que querem o céu como seu troféu, ao dizer que queria passar o céu fazendo o bem na terra. Alegria das irmãs durante os recreios, ela sabia ser agradável, viver em comunidade e partilhar de tal maneira que podemos aplicar a ela a frase do místico alemão Johann Tauler (séc. XIV): “Se eu amar o bem que está no meu próximo, mais do que ele mesmo o ama, esse bem me pertence mais do que a ele”.

Mas Teresinha não seria hoje uma mestra somente através de seus bons exemplos. Por meio de sua doutrina da pequena via, ela daria duros remédios a nós, que gostamos de conforto e guloseimas. Ela diz que “um dia sem sofrimento é um dia perdido”. Sem dúvida, Santa Teresinha tem muito a nos ensinar no caminho necessário da ascese e penitência. Ela não nos convida a fazer coisas exorbitantes, tão distantes do nosso padrão de bem-estar, mas coisas simples, como ela mesma fazia: durante as refeições, não se recostar ao encosto confortável da cadeira. Coisas realmente tão simples quanto possíveis.

Mas talvez a lição mais dura que ela tem a nos dar seja sua convicção de que o amor não é sentimento ou emoção, mas decisão da vontade. Verdade difícil num mundo em que os relacionamentos são tão superficiais e a capacidade de se comprometer tão volátil, que casamento se faz por união afetiva e religião se escolhe pela medida de boas sensações e retribuições divinas.

Teresinha é um daqueles santos que ultrapassam o seu tempo, porque sua vida e ensinamentos comunicam valores perenes. Especialmente ela, que soube reconhecer os sinais dos tempos e, com consistência e profundidade, tem uma profecia atual, merece realmente o título de “a maior santa dos tempos modernos”, como a chamou São Pio X (1835-1914).