Televisão, arte e moral

Temos visto e ouvido nos últimos dias e, ainda hoje, em artigos e comentários na imprensa, prós-e-contra as cenas de novelas que nos chocam.

O que dizer diante de strip-tease e atitudes provocantes e realísticas de sexualidade que são expostas aos nossos olhos em nossas casas, sem a menor cerimônia?
Preferimos, num primeiro momento, deixar a resposta à consciência de cada um.

A beleza é dom de Deus. O prazer é dom de Deus. Maravilhosos demais para serem expostos à vulgaridade.


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Já os Escolásticos definiam o belo como o que agrada aos sentidos pela justa proporção e luz que irradia. Mas, vulgarizado e profanado perde o brilho. Torna-se opaco. O que eleva as mentes na simetria e proporcionalidade e os corações nas emoções que podem conduzir à contemplação e ao êxtase, cai no vazio e se enlameia no charco dos vícios e da galhofa.

Há, nas apresentações, dois princípios que devem nortear produtores, artistas e também aos que assistem aos espetáculos e são também responsáveis por quem participa da assistência.

Entre os meios de comunicação, tanto nos noticiários, como nas diversões, sobressai a televisão. Sobretudo para o grande público nada a iguala. Livros e jornais, teatro e cinema têm seu custo e são limitados no alcance pelos fatores de espaço e tempo. Espaço das salas e ambiente. Tempo disponível para as apresentações. E tantos outros fatores.

Já a televisão penetra em nossos lares. Ricos e pobres. Desde os telões ultra modernos aos simples aparelhos, tanto no sistema analógico quanto, em breve, na novidade do digital.
Então, mais que nos demais meios, cumpre-nos preocupar com a arte e a moral.

Os princípios da arte obrigam os artistas e produtores a procurar realizar a beleza na harmonia das formas e na transmissão da realidade viva que existe na sua concepção. A obra artística deve ser capaz de comunicar a perfeição da idéia e da emoção do autor ao criá-la, de tal forma a transmitir o mesmo sentimento ao espectador e fazê-lo vibrar e se emocionar.

Ora, se é bela, se é harmoniosa essa concepção artística, ela não pode macular nem ao artista nem ao espectador. Nisso se subordina à ordem moral. A arte deve ser expressão da vida em sua exuberância, na realização do fim último do homem, que São Paulo define tão bem como atingir a “plenitude da idade de Cristo”, isto é, do homem que supera o pecado e caminha pela estrada da salvação, vencendo a morte até atingir a gloriosa liberdade dos filhos de Deus, pela qual anseia, não só ele, mas toda criatura.

A arte deve ser dirigida à plenitude humana que, em Cristo, tornou-se participante da divindade.
Neste caminho, a humanidade e cada povo têm sua história, a sua cultura que, gradativamente, cresce no conhecimento e na consciência da verdade, do bem e da virtude. Isso também ocorre na individualidade de cada um: o anseio da criança, os impulsos da juventude, a força da idade madura, para desaguar no oceano sereno de quem pode contemplar os seus dias.

Num espetáculo de amplitude quase universal pela TV, o respeito a essa cultura, tão diversificada , em termos de idade, conhecimentos, educação, capacidade de recepção não é fácil. Bem diferente de um ambiente fechado onde a presença é quase selecionada.

Assim, a obrigação ética do agir, segundo os ditames da razão, tem de se ater também à cultura da sociedade. Tanto artistas, produtores quanto assistentes têm de definir o seu procedimento. O que deve ou não ser exibido, o que deve ou não ser assistido para que não se deturpe a arte, degenerando a obra.

O espetáculo artístico se condiciona à capacidade de quem o produz e de quem a ele assiste. Se não for capaz de transmitir a beleza nem deveria ser exibido. Se não for capaz de elevar a alma do artista e do espectador é forma de morte. Se ofende a cultura, nosso modo de viver e nossos princípios, é desrespeito à nossa pessoa.

Cabe-nos julgar e decidir se o espetáculo é digno de nossa atenção ou não. Temos o poder e o dever de ligar e desligar a televisão.